A futilidade é a grande virtude pós-moderna, consiste em não levar nada excessivamente a sério, em evitar a confrontação dialética. Para o fútil não tem sentido a diferença entre o essencial e o acidental, entre o categórico e o anedótico, pois tudo faz parte do mesmo universo, insuportavelmente, leve.

 por Francesc Torralba Roselló

fA futilidade é a grande virtude pós-moderna. Consiste em não levar nada excessivamente a sério, em evitar a confrontação dialética, em optar por uma cultura da representação como contraposição à autenticidade como atitude vital. A futilidade relaciona-se, intimamente, com a atitude superficial e epidérmica, com a prática generalizada da anedota e do cômico, em fim, é a antítese da profundidade de espírito e da seriedade como atitudes vitais.

Alguns filósofos pós-modernos, apologista do denominado pensamento débil, consideram que é a grande virtude que devemos ensinar às crianças nas escolas, que é fundamental para evitar a caída em formas de fanatismo, intolerâncias ou fundamentalismos, que se deve cultivar, para isto, um pensamento frágil, desprovido de ideias fortes, de sentimentos que tenham profundidade ou das crenças, excessivamente, vívidas. A futilidade tem que a vida pública, as instituições educativas e, como não, os âmbitos da comunicação de massa.

Esta tese, muito difundida e praticada, está se impondo sutilmente em diferentes ambientes, de tal modo que todo o que tem peso, substancia, ideologia, forma de convicção ou de crença, ou bem tenha a expressão de um sentimento intenso e profundo, deve ser equalizado e peneirado pela virtude da futilidade.

As vezes, em comparação com a temperança, que é uma virtude cardinal, nos tratados de moral tradicional e que, junto a justiça, a prudência e a fortaleza se considerava um dos alicerces da construção moral da pessoa. Mas, a futilidade nada tem que ver com a temperança, porque a futilidade é uma eloquente expressão moral do relativismo e da licenciosidade pós-moderna, enquanto que a temperança é a capacidade de dominar e de controlar a expressividade do pensamento, da vida emocional e da linguagem, considerando as consequências que ela tem para si mesmo e para o outro.

A temperança, jamais é a casualidade, mas sim o resultado de um esforço articulado ao longo do tempo, de um treinamento espiritual que deve muito à tradição estoica da tranquillitas animae. A temperança não se contrapõe às crenças nem às convicções, mas que regula racionalmente a expressão ou a manifestação das mesmas.

A apologia da futilidade é, no entanto, contraditória. Explica-se pela reação ao fanatismo e à barbárie, mas a solução a tais males sociais ignora a cultura da futilidade, que é seu oposto, mas, pelo cultivo de autênticas virtudes, entre elas, a prudência. Frente a tais manifestações, não basta a tibieza moral, nem uma atitude tímida e permissiva, mas sim deve-se adotar uma atitude agressivamente ativa, mas, isto sim, sem sucumbir a nenhum tipo de violência física ou psíquica.