felicidade2Todos nós queremos ser felizes, mas não temos um “dispositivo” para conseguir diretamente a felicidade: a publicidade, muitas vezes, nos trai ao oferecer algo muito acima do que o que o produto realmente oferece. Nós temos o prazer e a riqueza e tudo isto, como acontece, dura pouco. A felicidade nós temos é que buscá-la principalmente nas coisas espirituais (conhecer e amar), através da potência volitiva, que está em querer o bem: tem que orientar minha vida, não é estar bem, mas é fazer o bem, e assim estaremos todos muito melhor. Isto é, não tem que querer ser feliz, mas sim, ser bom, e ao fazer coisas boas, ficaremos felizes, porque nos convertemos em bondade. Chamar a pessoa de “homem bom” é a forma que temos de homenagear uma pessoa boa.

Ao estudar a ética filosófica se entende que o homem tende à felicidade, mas esta consiste em satisfazer todas as suas funções, o qual implica que através de suas faculdades superiores pode conhecer como se sentir realizado (inteligência) e como realizar esta plenitude (vontade). Mas a vontade consiste em querer e esta faculdade não busca o estar bem, mas através da liberdade escolher o que é bom. É dizer que a vontade como objeto de suas operações não tende a ser feliz, mas o que aparece como bom são as suas “vontades”. Por isso, o importante não é estar bem, mas fazer o bem e assim estaremos muito melhor. Poderia dizer a mim mesmo que o essencial e o ser radical não é ter que querer ser feliz, mas está em ser bom. E é assim, como “um salto”, serei feliz. Em troca, a busca do prazer me leva à insatisfação. Pode parecer complicada entender que a felicidade se adquire não diretamente, mas “de um pulo” quando faço o bem, porém a mais cruel das desventuras é o engano de mostrar a felicidade em sonhos passageiros que deixam o rastro de vazio.

Mas há ainda que dar outro passo, pois a vontade tende ao bem, entretanto o bem supremo é o amor. É mais, o homem – imagem e semelhança de Deus, que é amor – se realiza quando – como o modelo de seu exemplar – vive de amor, reconhece o amor e se dedica a amar, a felicidade é própria de um coração apaixonado, do que sabe querer. Definitivamente, para ser bom não há que fazer coisas boas em um sentido moral de obrigação, mas tem que se unir as duas coisas: o bem e o amor. Porque ela é sempre a consequência – involuntária – da própria perfeição, da própria bondade. E para sermos bons, temos que se esquecer por completo de si mesmo e buscar aos demais. Tomás Melendo recorda: “Você tem que aprender a amar. Só, então, quando a rejeitamos plenamente, nos sobrevirá, como um presente, como um dom inesperado, a felicidade. O amor, somente o amor, gera o amor”.

A alegria se alcança sempre ao ter o bem que se buscava, e assim desde o prazer que é alegria mais sensível até o êxtase – sair de si mesmo que é o mais sublime. Em todos os casos, é sempre consequência de ter ao que se vê como bom e quando se busca a alegria em si mesmo, se aborta.

O gozo da felicidade é a consequência do amor, sinal da plenitude da realização pessoal, como dizia Aristóteles: “querer ao outro enquanto outro”, isto é, amar. Ou como diz a fenomenologia moderna de Gehlen e Plessner: a superioridade do homem sobre os animais é a atitude para esquecer-se do próprio bem e querer e procurar o bem dos outros (não pensar em que me querem, mas em querer). Então voltamos a confirmar de que somos imagem e semelhança de Deus, que opera por amor, coloca amor, e quer somente o amor, correspondência, reciprocidade, amizade: e suposto que o homem é imagem do Amor, se realiza também quando ama, quando vive de amor, e se não, não é homem, é homem frustrado, se auto reduz a coisa. Como diz a “Gaudium et spes” (24): “o homem, única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo”, é dizer no êxtase, a doação amorosa. O homem bom é quem faz o bem aos demais, e o homem mau é o que é egoísta e prejudica aos demais, mas então se autodestrói pois renuncia a ser homem. Porque o mal não tem a última palavra, existe o perdão: logo o amor é fecundo e tem frutos, filhos: a fecundidade do amor é seu filho, que é o perdão. Como fruto do amor vem a misericórdia que nos move a perdoar tudo, e então, é verdade que “amar é não ter que dizer tudo o que sinto”, pois, o perdão está “englobado” no amor, emerso dentro dele, como “banho-maria”.