Vós sabeis que o Espírito Santo constitui a alma, a linfa vital da Igreja e de cada cristão: é o Amor de Deus que faz do nosso coração a sua morada e entra em comunhão com cada um de nós. O Espírito Santo está sempre conosco, em nós, no nosso coração. 

O próprio Espírito é «o dom de Deus» por excelência (cf. Jo 4,10), um pressente de Deus e, por sua vez, transmite vários dons a quantos o acolhem. A Igreja identifica sete, número que simbolicamente significa plenitude, totalidade; são aqueles que aprendemos quando nos preparamos para receber o sacramento da Confirmação e que invocamos na antiga prece da chamada «Sequência ao Espírito Santo». Os dons do Espírito Santo são os seguintes: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade temor de Deus. 

Trechos das Audiências do Papa Francisco, sobre os dons do Espírito Santo, feitas em 2014. 

Dom da Sabedoria 

O primeiro dom do Espírito Santo, de acordo com este elenco, é a sabedoria. Mas não se trata simplesmente da sabedoria humana, que é fruto do conhecimento e da experiência. Na Bíblia narra-se que, no momento da sua coroação como rei de Israel, Salomão tinha pedido o dom da sapiência (cf. Rs 3, 9). E a sapiência consiste precisamente nisto: é a graça de poder ver tudo com os olhos de Deus. É simplesmente isto: ver o mundo, as situações, as conjunturas e os problemas, tudo, com os olhos de Deus. Nisto consiste a sabedoria. Às vezes nós vemos a realidade segundo o nosso prazer, ou em conformidade com a situação do nosso coração, com amor ou com ódio, com inveja… Não, este não é o olhar de Deus. A sabedoria é aquilo que o Espírito Santo realiza em nós, a fim de vermos todas as realidades com os olhos de Deus. Este é o dom da sabedoria. (Audiência, 09/04/2014) 

Dom do Entendimento 

Não se trata da inteligência humana, da capacidade intelectual de que podemos ser mais ou menos dotados. Ao contrário, é uma graça que só o Espírito Santo pode infundir e que suscita no cristão a capacidade de ir além do aspecto externo da realidade e perscrutar as profundidades do pensamento de Deus e do seu desígnio de salvação. […] No entanto, como sugere a própria palavra, a inteligência permite «intus legere», ou seja, «ler dentro»: esta dádiva faz-nos compreender a realidade como o próprio Deus a entende, isto é, com a inteligência de Deus. Porque podemos compreender uma situação com a inteligência humana, com prudência, e isto é um bem. Contudo, compreender uma situação em profundidade, como Deus a entende, é o efeito deste dom. (Audiência, 30/04/2014) 

Dom do Conselho 

 «Bendito o Senhor que me aconselha; durante a noite a minha consciência me adverte» (Sl 16, 7). Este é outro dom do Espírito Santo: o dom do conselho. Sabemos como é importante nos momentos mais delicados, poder contar com sugestões de pessoas sábias e que nos amam. Através do conselho é o próprio Deus, com o seu Espírito, que ilumina o nosso coração, fazendo com que compreendamos o modo justo de falar e de nos comportarmos, e o caminho que devemos seguir. […] o conselho é o dom com o qual o Espírito Santo torna a nossa consciência capaz de fazer uma escolha concreta em comunhão com Deus, segundo a lógica de Jesus e do seu Evangelho. (Audiência, 07/05/2014) 

Dom da Fortaleza 

Não devemos pensar que o dom da fortaleza seja necessário só em determinadas ocasiões e situações particulares. Este dom deve constituir o fundamento do nosso ser cristãos, na ordinariedade da nossa vida quotidiana. Como disse, em todos os dias da vida quotidiana devemos ser fortes, precisamos desta fortaleza, para fazer avançar a nossa vida, a nossa família, a nossa fé. O apóstolo Paulo pronunciou uma frase que nos fará bem ouvir: «Tudo posso naquele que me fortalece» (Fl 4, 13). Quando enfrentamos a vida comum, quando chegam as dificuldades, recordemos isto: «Tudo posso naquele que me fortalece». O Senhor dá a força, sempre, não a faz faltar. O Senhor não nos dá prova maior da que pudemos suportar. Ele está sempre conosco. «Tudo posso naquele que me fortalece». (Audiência, 14/05/2014) 

Dom da Ciência 

Quando se fala de ciência, o pensamento dirige-se imediatamente para a capacidade que o homem tem de conhecer cada vez melhor a realidade que o circunda e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. Contudo, a ciência que deriva do Espírito Santo não se limita ao conhecimento humano: trata-se de um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua profunda relação com cada criatura. (Audiência, 21/04/2014) 

Dom da Piedade 

Desejamos meditar sobre um dom do Espírito Santo que muitas vezes é mal entendido ou considerado de modo superficial mas, ao contrário, refere-se ao cerne da nossa identidade e da nossa vida cristã: trata-se do dom da piedade. 

É necessário esclarecer imediatamente que este dom não se identifica com a compaixão por alguém, a piedade pelo próximo, mas indica a nossa pertença a Deus e o nosso vínculo profundo com Ele, um elo que dá sentido à toda a nossa vida e que nos mantém firmes, em comunhão com Ele, até nos momentos mais difíceis e atormentados. 

Este vínculo com o Senhor não deve ser entendido como um dever ou imposição. É uma ligação que vem de dentro. Trata-se de uma relação vivida com o coração: é a nossa amizade com Deus que nos foi concedida por Jesus, uma amizade que transforma a nossa vida e nos enche de entusiasmo e alegria. Por isso, o dom da piedade suscita em nós, antes de tudo, a gratidão e o louvor. (Audiência, 07/06/2014) 

Dom do Temor de Deus 

O dom do temor de Deus, do qual hoje falamos, conclui a série dos sete dons do Espírito Santo. Não significa ter medo de Deus: sabemos que Deus é Pai e nos ama, quer a nossa salvação e nos perdoa sempre; por isso, não há motivo para ter medo dele! Ao contrário, o temor de Deus é o dom do Espírito que nos recorda como somos pequenos diante de Deus e do seu amor, e que o nosso bem está no nosso abandono com humildade, respeito e confiança nas suas mãos. Este é o temor de Deus: o abandono à bondade do nosso Pai, que nos ama imensamente. 

Quando o Espírito Santo faz a sua morada no nosso coração, infunde-nos consolação e paz, levando-nos a sentir-nos como somos, isto é, pequeninos, com aquela atitude — tão recomendada por Jesus no Evangelho — de quem põe todas as suas preocupações e expectativas em Deus, sentindo-se abraçado e sustentado pelo seu calor e pela sua salvaguarda, precisamente como uma criança com o seu pai! É isto que faz o Espírito Santo nos nossos corações: leva-nos a sentir-nos como crianças no colo do nosso pai. Então, neste sentido compreendemos bem que o temor de Deus assume em nós a forma da docilidade, do reconhecimento e do louvor, enchendo de esperança o nosso coração.