imaculada_conceicaoTem realidades que não se descobrem até que se veem seus efeitos. Tem acontecimentos que, embora podem mudar a história, ficam ignorados no momento em que acontecem. As coisas mais bonitas da vida e as terríveis acontecem, muitas vezes, no íntimo do nosso coração.

No silêncio dos tempos, no anonimato e no segredo do espaço particular, Deus atua de forma discreta, amorosa, extasiada, carinhosamente na hora de infundir na criatura privilegiada, escolhida para ser sua mãe, a alma limpa de toda mancha.

Nada foi testemunhado desta ação, não se conta que o céu se estremeceu, nem que os anjos cantaram, e, contudo, o novo tempo, a nova terra começaram com a concepção imaculada da filha de Joaquim e de Ana.

O Papa Bento XVI descreve a diferença que há entre os relatos da anunciação do anjo Gabriel a Zacarias, sacerdote, quando realizava seu oficio no templo, à ora do incenso, à tarde, no santuário, no esplendor do lugar sagrado, e os que narram o anúncio do Anjo a Maria, uma jovem desconhecida, em um lugar sem tradição bíblica, em uma humilde casa.

Sem o anúncio da concepção de Jesus se desenvolveu nas circunstancias mais humildes e sensíveis, a concepção imaculada de Maria, a obra preciosa do Criador, teu lugar na mais estrita intimidade, silêncio e segredo. Só Deus conhecia o privilégio da pequena. So Deus se sentia satisfeito cada vez que olhava o crescimento do ser mais belo.

Nas estancias de nossas casas, muitas vezes guardamos alguma estranha recordação, que nos acompanha no coração; pode ser tenhamos exposto, como decoração que alegra e embeleza o espaço de trabalho, mas pode ser que o deixamos oculto, preso na garganta, ou mantidos na mesa de cabeceira da cama, como joia espiritual.

Deus guardou o tesouro da criação no segredo, e quando o via, se alegrava, sentia alegria de ver uma nova geração, uma nova humanidade, uma terra habitável, cheia de graça e de formosura, alegria da Trindade Santa.

Em Maria, Deus construiu sua nova Arca da Aliança; em Maria, Deus se parou para levantar a nova tenda do encontro; o três vezes santo, edificou em Maria o templo sagrado, no qual habitaria a glória de Deus. Maria, desde o primeiro momento de sua existência, recebeu a vocação para ser a arca santa do pão do céu, a casa de Deus entre os homens, o recinto do Filho amado de Deus.

O mistério da Imaculada Conceição, festa da beleza divina, revela-nos uma relação essencial: é Deus o mais belo e o mais humilde, o mais transfigurador e o mais discreto, o mais amoroso e o mais silencioso.

A celebração da Imaculada Conceição nos convida a agradecer a Deus pela sua ação misericordiosa em Maria, e também a elevar, antecipadamente, nosso Magnificat, porque da mesma forma que nada se inteirou da ação privilegiada em Maria, também, em cada um de nós, Deus atuou, e, talvez, nem nós mesmo conscientes do amor dissipado sobre o nosso coração.

A celebração da Imaculada Conceição ensina o modo que Deus trabalha: discreto, humilde, sensível, enquanto transformador.

Se a Igreja tardou em descobrir as maravilhas realizadas por Deus em Maria, que cada um de nós não demore em cantar as maravilhas do Senhor na criação ao longo de toda história, de forma especial o momento da concepção imaculada da escolhida para ser a mãe do Emmanuel, na concepção virginal do Verbo feito carne, no momento da ressurreição de Cristo, e também as que realiza dentro de nos, tantas vezes sem que percebamos seu passo, seu alento, sua paciência, sua espera, sua graça, sua bondade.